domingo, 16 de janeiro de 2011
Bi Centenário de Entre Folhas
Acordo no ano 2011. Até me acostumar com a grafia correta do ano, lá se iriam algumas folhas de cheque. Coloco o verbo nesse tempo porque já se foram muitos, os anos em que não uso essas folhinhas que conspiram a favor do estelionato. Cheque é cabeça, ou ponta, ou incentivo ao estelionato; crime do Códex que os “achistas” de plantão teimam por querer modificar, mas que leva o desabusado ao risco de uns cinco anos de cadeia.
Desisti do cheque, quando percebi que não possuía as qualidades para aguentar a tentação do “pós datado”. Sim, a termologia correta é essa: pós datado. É do codex também. Inventaram um pré-datado, que combina muito bem com o 71. Quando dizem 71, na verdade, querem dizer 171, o número do artigo que dá os cinco anos de cana.
E que é que tem a ver isso tudo? Passo essa escorregadela pra justificar a data. Pra dizer que não corro esse risco de errar. Na verdade, só vou manejar datas uns bons dias depois do inicio do ano, quando volto do recesso merecido que nos restou da campanha virulenta contra as férias forenses do meio de ano. Diziam que era pra agilizar as ações do judiciário. Ledo engano. Continua tudo paradin, paradin…
Nesses dias, corro pra Entre Folhas, pra que o recesso se imponha com mais deleite. Nesse prenúncio de 2011, meu recesso sofre uma delirante ameaça com a inundação da cidade. Vi repassar em meus olhos, o desastre de 1981 quando metade de tudo ruiu e a lama fez camadas pelas ruas e casas. Pensei que encontraria as coisas tal como naquela época. Me surpreendi. Que estava complicada a coisa, não há negar, mas não chegava nem perto do que víramos 29 atrás. Assim o entendimento do Tatá de João Otacílio, do Adão Profiro, do Deninho e do Zé Andrade.
Naquele ano longínquo, não tínhamos a estrutura de hoje. Quando a notícia me chegou, lá atrás, já eram passadas umas doze horas da hecatombe. Dessa vez, pude ouvir o borbulhar das águas, no meio da madrugada, em telefonema diligente do Nem Longino. Avisei a galera ainda no lusco fusco. Acho que sempre sou o primeiro a receber esses avisos. Não sei porque não, mas me ligam antes de qualquer coisa. Não foi preciso mobilizar o batalhão de “madruvás” espalhados pelos abissais vales de Belo Horizonte, como da outra vez. As coisas agora, chegavam de roldão em caminhões de donativos. A imprensa nacional se encarregava de difundir o lamento. Entre Folhas foi para os ares da galáxia. O mundo todo, assistiu a fúria do ribeirão da cidade do Meio Quilo. Um rio nanico, anão feito ele, mas que de um momento para o outro se transformou num dragão que ruge, de peito estufado, e explode dentro de seus limites. Passada a tristeza inicial, o ribeirão volta a dormitar, “esquecido” como o “esquecido” Meio Quilo. Ninguém fala dele. Vira Geni; jogam lixo nele, jogam bosta nele…
Bi-centenária Entre Folhas? Assim. Com muita água e pouca memória
Converso com Zé Andrade. O fortunato líder concentra conhecimentos profundos sobre a história da região. Concorda comigo em muitas coisas, em outras não. Mas eu também discordo dele em vezes. Somando os dados que temos, concluímos que a povoação do lugar onde está assentada hoje, a cidade de Entre Folhas teve início por volta dos anos 50, 60 do século XIX. Concordamos ainda, que a história dessa terra precisa ser destacada com cores reais; deve-se baixar no garimpo da pesquisa cientifica, e não em apelos ufanistas apenas.
Há fatos que são notórios. A história que se conta hoje, sobre uma possível influência de um suposto miliciano das tropas imperiais, não se sustenta. A própria ausência de costumes ligados à sede da província em nosso meio, principalmente na culinária destrói a tese do miliciano. Não há vestígios da presença escrava em nossa região. As famílias povoadoras, todas elas, são “lá de fora”, e esse “lá de fora” guarda grande relação com a região de Juiz de Fora(Tocantins, Piraúba, Rio Pomba, Guarani, etc.), o que nos relega ainda hoje uma grande aproximação com o Rio de Janeiro. Uma culinária rica em produtos dos quintais como a carne de porco, bem marcada pela feijoada, o frango com quiabo, o angu, os derivados do leite são características marcantes da Zona da Mata mineira, região donde saímos para nos transformar em Vale do Rio Doce, numa migração bastante autoritária.
De forma diferente, as cidades com ligações mais estreitas com o núcleo do poder, central, como Sabará, Mariana, Santa Luzia, Caeté, Itabirito, aquelas incrustradas no leito do Rio das Velhas, praticam uma culinária diferenciada da nossa (estão presentes na mesa: o ora-pro-nobis, o cansanção, o broto da samambaia, etc.), tem costumes diferentes, tem uma presença maior do negro escravo, com relatos de atrocidades das mais cruéis em seus casarões, o que não se vê pelos nossos lados. A própria arquitetura se destaca pela singeleza de casarões práticos, numa contraposição ao fausto do ouro que se verifica nos pórticos sagrados da região surgida do brilho do sabarabuçu.
Mas, isso é papo de muitas horas, com que não me canso de discutir com o velho líder. Acho que precisamos nos reciclar. Por fim, boto olhos de tersol nessa visão de bi-centenário. Zé dá uma bela risada, mas não somos historiadores, nem eu nem ele. A palavra deve ser passada para os especialistas. Datas são coisas muito sérias, história também. Há nomes que precisam ser resgatados. Santos Mestre é um deles. Foi uma das maiores lideranças regionais que por aqui passaram. Um nome bem maior que um reles miliciano sem identidade.
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